Sunday, January 30, 2011


A FAMÍLIA DE ERLI PORTO DO NASCIMENTO ABRÃO COMUNICA O SEU FALECIMENTO OCORRIDO DIA 06 DE JANEIRO DE 2011 durante uma conversa em que se descobriu que todos as suas certezas construídas há tanto tempo estavam erradas. A família comunica ainda que optou por velá-la e enterrá-la em sigilo. Seus restos mortais apresentavam um cheiro pútrido e a decomposição do cadáver ocorreu com uma rapidez poucas vezes vistas e órgãos como o coração, o cérebro e a alma apresentaram uma destruição quase instatânea justificando a decisão familiar. Outra informação é a de que a família optou por não fazer uma missa por ocasião do sétimo dia de falecimento. Os restos mortais teimavam em ficar expostos, mesmo após o enterro, não sendo, portanto, possível a realização de cerimônia sem que todos os presentes ficassem sujeitos a contatos com restos apodrecidos do que um dia foi o cadáver em questão. Espera-se uma mensagem psicografada do que sobrou da alma a ser reconstruída, pois perdeu-se demais na destruição instantânea. A família comunica ainda que está elaborando uma lista das certezas que se desfizeram/quebraram primeiro, a fim de que seja realizado uma autópsia para uma possível verificação das causas mortis. A lista, até o momento foi a seguinte:


  1. A crença de que ela era o forte o bastante para não quebrar com uma traição. Embora tenha quebrado na informação da 4ª, o discurso dela era de que quem ama não pode exigir amor, portanto o fato de ela ter sucumbido ao se saber traída destruiu completamente o argumento do amor incondicional, sua mais forte crença, o que torna a possibilidade de uma reencarnação pouco improvável;

  2. A crença de que não existe traição (embora parecida com o item número 1, tem sutis diferenças). Ela sempre acreditou que nunca se trai o outro mas que o que se trai é a si mesmo. Entretando o fato de ter, imediatamente, se colocado/sentido como sujeito da traição do outro, fez com que um curto circuito destruísse certas áreas fundamentais para a integridade de seu próprio espírito, tornando, portanto, insustentável a manutenção da vida;

  3. A crença de que o maior valor que se possa dar a quem se ama é a liberdade: de amar, de se relacionar, de sentir, de ter prazer, enfim de ser livre. Ao se ver possuída por sentimentos de posse em relação ao outro tornou insuportável o sentimento de pequenez que a invadiu. O fato dela se sentir dona de qualquer coisa fora dos limites de sua própria pela (usando a pele apenas como metáfora, pois ela sempre acreditou não ser dona nem mesmo do que ocorre dentro dos limites de seu próprio corpo) danificou circuitos até então desconhecidos por ela mesma o que faz com que apossibilidade de uma reconstrução de tal sentimento de liberdade, combustível essencial para sua jornada, tornar-se praticamente impossível;

  4. O surgimento de uma desconfiança do passado, anunciadora de um sujeito desconfiado a partir do ocorrido. Ela jamais, nunca, em momento algum desconfiou que as pessoas, especialmente a pessoa em questão, devessem ser alvo de constante vigilâcia e punição. Essa certeza combina bem com o item nº 1, rompido no primeiro momento. Para ela, desconfiar das pessoas seria um sentimento contraditório com todas as certezas por ela cativadas. O medo surgido daí, torna impossível, mais uma vez, a reconstrução dessa alma quebrada;

  5. O ciúme. Apenas separado da perda nº 4 por ser um sentimento totalmente novo. Ela é/era absurdamente contra todo e qualquer sentimente de posse de qualquer coisa objeto bicho gente certezas verdades, ou seja, a certeza de que nada nos pertence, portanto não seria possível a convivência, não seria possível justificar a ela mesma o ciúme de algo alguém corpo desejo prazer sexo vício compulsão que não fosse os exclusivamente dela mesma;

  6. A quebra na auta estima. Havia construído por anos a certeza de que o que vale é a construção, a busca de uma alma humanamente superior. Cuidar do corpo sim, mas como um templo onde mora a alma. Cuidar de sua saúde, de sua hamonia. envelhecer sem culpas, sem traumas, sem medos. Olhar a juventude como uma etapa, que viveu pouco é verdade, mas uma etapa. O ocorrido fez surgir, instatâneamente, como se fosse possível dois sentimentos instatâneos: a destruição e o novo, a visão de um corpo envelhecido, gordo, enrugado, com cicatrizes, absolutamente, completamente fora dos padrões socias de beleza e o fato dela dar importância à visão desse corpo em processo de destruição natural no envelhecimento foi insuportável, mais uma vez justificando a quebra de seu espírito;

  7. Finalmente, até o momento, o desejo quase insuportável, incômodo de querer se matar.

A família comunica que continuará a fazer investigação sobre quais outras certezas se quebraram para futuras prevenções de perdas irreparáveis agradecendo a todos que orarem pela recuperação pós morte da falecida.

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