Saturday, December 13, 2014

Refazendo projetos. Que não vou cumprir, como todos que faço, mas faço. Preciso continuar fazendo como se fazê-los me mantivesse a ilusão de viver. Vivo nos projetos que não cumpro. Refazendo projetos: quero fazer um inventário. Inventariar o ano. Ano difícil. Ano que não acaba. Por favor, acabe logo. INVENTÁRIO. Inventar o Rio. Rio que leve para longe a lista que eu fizer. Lista só de coisas ruins? Não sei, mas quero que sejam levadas, lavadas. Quero inventariar a vida, quero inventar o ano que passou. Inventário: Relação dos bens, móveis e imóveis, de alguém; Descrição minuciosa; Menção ou enumeração de coisas; Descrição dos bens ativos e passivos de uma empresa ou sociedade comercial. Pronto, então é isso, relação dos bens, que se movem e os que não se movem. É isso, achei meu novo projeto, descrição das coisas que se movem. As que ficam eu não conheço.... perdi o projeto, tive que parar e tenho muita dificuldade em recomeçar. InventaRio depois.

Saturday, July 05, 2014

ESCRITO EM 23/04/2014. Na tentativa de elaborar o velho que se faz novo eternamente.


"De Eros, Deus estúpido: "Eros, Deus estúpido e bêbado. / Faz palhaços amarem bailarinas, / Quantos erros.../ Faz homens amarem meninas."

De A Dança ... "Dançam Eros e Vênus. / Bailam todos os "lábios", / Excitados... menos pela ousadia, / Mais pela transpiração."
...
Quando dança, / Dançam as dores. / Dançam os espíritos, / Bailam todas as cores. / Quando dança.../ Dançam com Sarah seus amores..."

Lendo " A Dança de Sarah" lendo a dança, lendo, lendo, vendo, sendo, escrevendo...sofrendo!

"Eu conheço o medo de ir embora". Contano estrofes (20), contando versos (6). O cansaço impede-me de contar as palavras e letras.

Dançam, dançam, dançam.

Quase posso ver. Quase. Não fosse o muro a noite a solidão eu veria. E me inebriaria com o movimento pulsante e circular da vida. Não fosse o muro. Não fosse a alma que se fez pedra. Não fosse... Veria. Não fosse eu que deixei de bailar. Não que eu não quisesse. Paramos de ouvir a música de Eros. Parei. Não fosse o muro eu ouviria. Afastei-me da colina enquanto você bebia o morro. Ou era bebido por ele. Eu? Construí muros.

MUROS. De pedras que carreguei a vida toda... Quem carrega pedras pode dançar? Pode? Não petrificam os braços? e o corpo. e a alma. Pedra. E dançam as pedras. "Em ti edificarei minha Igreja". De DORES. e culpa. e medo. "Medo de ir embora".

Deus, me dê coragem para pedir forças! (longa pausa)

Eu quero a raiva de volta, o grito. Eu quero a violência. Violar-me. Deixar de existir na memória de Deus.

- Entendes que não é a morte que Te peço? Entendes? És capaz de ouvir? Então, por que Te calas?... Estais a escarrar, não é?

A não existência. Deixar de existir na memória de Deus e dos homens e dos filhos e filhas e dos pais e dos bichos. Ter o nome apagado dos livros que ganhei, dos cadernos que escrevi... da certidão... e da aliança!

Sumir o cheiro o gosto as carnes ossos o sangue e as cinzas. Sumir o afeto. A DOR. Coração com DOR (condor) é capaz de bailar? É pedra. Inexistência na pedra...

Há muito tempo escrevi um texto em que afirmava que a ordem da evolução espiritual de forma invertida (por causa da sombra?) O Nirvana é a pedra. Começamos Deuses e terminamos pedra..."
Escrito, por mim, em 24/04/14, uma quinta feira. Texto sem conclusão, fui interrompida no processo e não retornei a emoção. Agora não a encontrei mais. Trata-se de uma tentativa de elaborar o novo sofrimento.

"Em busca de uma linearidade. De uma linha que me conduza a um caminho sem DOR. O corpo não tem suportado, e chora. Não é a alma que tem chorado, é o corpo, por não poder conter a DOR. A ALMA se ausentou. Fugiu. Não quis ficar e ver o espetáculo circense em que dançam palhaços e bailarinas. E dançam para o corpo ver. É dança pública. De rua. Lugar do liberto. A alma não ficou para ver o espetáculo. Não ficou. Deixou em seu lugar um amontoado de pedras. Jogar pedras nesse espetáculo? Talvez. Talvez as pedras caiam em mim novamente. Corpo.
Em busca de uma linha. Sou bordadeira, sei bordar. Não danço, mas bordo. Por isso a necessidade da linha para concluir o bordado. Bordados precisam de conclusão. Não podem ficar incompletos, desalinhados, sem nó. Bordados se desmancham sozinhos com o passar do tempo se não são cuidadosamente concluídos com a linha necessária para o desenho. Há uma linha específica para cada ponto que se quer bordar. Pode-se usar outras, às vezes até com uma conclusão bem feita. Mas há uma linha para cada bordado, para cada tecido, para cada trama. A finalização de um bordado é necessária. Sou bordadeira, um pouco tecelã. Não sei dançar. Nunca soube... Mas tu também não sabes. És um simples admirador de danças e bordados. Admiras bordado, pois não?
Em busca de uma linha. Linha do horizonte. Linha de navegação. Linha de base. Linha de passe. Linha final. Final. Pedra?
A linha que norteará minha decisão. Que nunca será a de ficar longe. Tenho medo de ir embora. Sei que irei, mas tenho medo. Sei que ficarei longe, mas tenho medo. Sei que me afastarei, mas tenho medo. Acho que terei de levar o medo. No emaranhando de linhas?...

Wednesday, May 01, 2013

Seu tivesse amigos ou pessoas que me amassem gostaria que se reunissem quando eu morrer. Igual nos filmes: pessoas reunidas revendo fotos, ouvindo músicas que eu gostava, comendo minha comida preferida...se eu fosse amada em vida, gostaria que as pessoas sentissem minha falta quando eu me for...uma falta que aquece o coração, triste, mas simples

Tentando voltar

Última postagem: 2011. Tentei escrever um diário manual e escrevi durante um tempo, mas doeu demais. Sempre dói. Até agora, hoje, ultimamente, quando não tenho mais sentido, sentido, SENTIDO, sinto dor.
Quero recomeçar a escrever. Sempre quero recomeçar. Mesmo quando está tudo bem, tudo bem, bem? Mesmo assim, quero recomeçar. Onde é o começo? Houve um começo? Tá, me disseram que não posso voltar, não dá. Só é possível levantar as toalhas que cobrem os restos antigos, vê-los, rearrumá-los, reagrupá-los. E que é bom fazer isto em companhia de alguém especializada em acompanhar. Mas não dá para jogar nada fora, NADA. Nem esquecer não dá. Não é da esfera do esquecimento. Está além do alcance da memória e portanto do esquecimento. Não quero mais morrer. Acho que já morri muitas vezes. E não adiantou...

Sunday, January 30, 2011


A FAMÍLIA DE ERLI PORTO DO NASCIMENTO ABRÃO COMUNICA O SEU FALECIMENTO OCORRIDO DIA 06 DE JANEIRO DE 2011 durante uma conversa em que se descobriu que todos as suas certezas construídas há tanto tempo estavam erradas. A família comunica ainda que optou por velá-la e enterrá-la em sigilo. Seus restos mortais apresentavam um cheiro pútrido e a decomposição do cadáver ocorreu com uma rapidez poucas vezes vistas e órgãos como o coração, o cérebro e a alma apresentaram uma destruição quase instatânea justificando a decisão familiar. Outra informação é a de que a família optou por não fazer uma missa por ocasião do sétimo dia de falecimento. Os restos mortais teimavam em ficar expostos, mesmo após o enterro, não sendo, portanto, possível a realização de cerimônia sem que todos os presentes ficassem sujeitos a contatos com restos apodrecidos do que um dia foi o cadáver em questão. Espera-se uma mensagem psicografada do que sobrou da alma a ser reconstruída, pois perdeu-se demais na destruição instantânea. A família comunica ainda que está elaborando uma lista das certezas que se desfizeram/quebraram primeiro, a fim de que seja realizado uma autópsia para uma possível verificação das causas mortis. A lista, até o momento foi a seguinte:


  1. A crença de que ela era o forte o bastante para não quebrar com uma traição. Embora tenha quebrado na informação da 4ª, o discurso dela era de que quem ama não pode exigir amor, portanto o fato de ela ter sucumbido ao se saber traída destruiu completamente o argumento do amor incondicional, sua mais forte crença, o que torna a possibilidade de uma reencarnação pouco improvável;

  2. A crença de que não existe traição (embora parecida com o item número 1, tem sutis diferenças). Ela sempre acreditou que nunca se trai o outro mas que o que se trai é a si mesmo. Entretando o fato de ter, imediatamente, se colocado/sentido como sujeito da traição do outro, fez com que um curto circuito destruísse certas áreas fundamentais para a integridade de seu próprio espírito, tornando, portanto, insustentável a manutenção da vida;

  3. A crença de que o maior valor que se possa dar a quem se ama é a liberdade: de amar, de se relacionar, de sentir, de ter prazer, enfim de ser livre. Ao se ver possuída por sentimentos de posse em relação ao outro tornou insuportável o sentimento de pequenez que a invadiu. O fato dela se sentir dona de qualquer coisa fora dos limites de sua própria pela (usando a pele apenas como metáfora, pois ela sempre acreditou não ser dona nem mesmo do que ocorre dentro dos limites de seu próprio corpo) danificou circuitos até então desconhecidos por ela mesma o que faz com que apossibilidade de uma reconstrução de tal sentimento de liberdade, combustível essencial para sua jornada, tornar-se praticamente impossível;

  4. O surgimento de uma desconfiança do passado, anunciadora de um sujeito desconfiado a partir do ocorrido. Ela jamais, nunca, em momento algum desconfiou que as pessoas, especialmente a pessoa em questão, devessem ser alvo de constante vigilâcia e punição. Essa certeza combina bem com o item nº 1, rompido no primeiro momento. Para ela, desconfiar das pessoas seria um sentimento contraditório com todas as certezas por ela cativadas. O medo surgido daí, torna impossível, mais uma vez, a reconstrução dessa alma quebrada;

  5. O ciúme. Apenas separado da perda nº 4 por ser um sentimento totalmente novo. Ela é/era absurdamente contra todo e qualquer sentimente de posse de qualquer coisa objeto bicho gente certezas verdades, ou seja, a certeza de que nada nos pertence, portanto não seria possível a convivência, não seria possível justificar a ela mesma o ciúme de algo alguém corpo desejo prazer sexo vício compulsão que não fosse os exclusivamente dela mesma;

  6. A quebra na auta estima. Havia construído por anos a certeza de que o que vale é a construção, a busca de uma alma humanamente superior. Cuidar do corpo sim, mas como um templo onde mora a alma. Cuidar de sua saúde, de sua hamonia. envelhecer sem culpas, sem traumas, sem medos. Olhar a juventude como uma etapa, que viveu pouco é verdade, mas uma etapa. O ocorrido fez surgir, instatâneamente, como se fosse possível dois sentimentos instatâneos: a destruição e o novo, a visão de um corpo envelhecido, gordo, enrugado, com cicatrizes, absolutamente, completamente fora dos padrões socias de beleza e o fato dela dar importância à visão desse corpo em processo de destruição natural no envelhecimento foi insuportável, mais uma vez justificando a quebra de seu espírito;

  7. Finalmente, até o momento, o desejo quase insuportável, incômodo de querer se matar.

A família comunica que continuará a fazer investigação sobre quais outras certezas se quebraram para futuras prevenções de perdas irreparáveis agradecendo a todos que orarem pela recuperação pós morte da falecida.

Saturday, January 08, 2011


Senhora do Rosário, dai-me coragem para aceitar o que não posso modificar. Ensina-me a compreender a rejeição, a traição, o desprezo, a solidão. Ensina-me a tirar daí lições para meu crescimento. Permita-me conviver com a falta, com a saudade, com o novo. Retira de mim o medo do que terei que enfrentar. Ensina-me a aceitar o fim. Senhora do Rosário, embora eu saiba que você não existe, nada na minha vida é mais real do que sua presença! Amém.

Tuesday, January 04, 2011

Pronto! De novo. Ponto e basta (eca! vendo muita novela de péssima qualidade)...não consigo achar nos manuais de psicopatologia a descrição que me enquadra. Recebo a notícia da traição da boca de quem me traiu e não sou capaz de sentir absolutamente NADA! Só tempos depois é que sinto, entretanto a emoção está equivocada. Trata-se mais de sentir por não sentir do que sentir mesmo, entende?Meu saco, se eu o tivesse, estaria cheio! É isso, tô de saco cheio, transbordando, derramando um líquido podre e mau cheiroso...e arrasto isso feito lesma deixando por onde passo a marca dessa gosma que me segue...ou serei eu a própria gosma? É uma interessante questão...ao me perguntar sobre mim mesma vejo-me gosma. Menor que Gregor Samsa! Não sou nem o bicho, só a gosma!!!

Thursday, January 14, 2010

02/01/2010 22:22

Metade – Oswaldo Montenegro


Não me matei. Chorei. Muito, ainda que em algumas vezes não tivesse lágrimas. Pensei muito na lista do que sou. Vi que sou também e muito a lágrima na cara suja da criança faminta. Lágrima que rasga o rosto do menino abrindo um rio de lama. Inútil. Percebo agora que o convívio comigo mesmo não se tornou suportável. Não posso mais viver em mim. Metade de mim é partida e outra metade não será mais uma chegada. Já não existem mais simples alegrias que me aquietam o espírito, ainda que a noite esteja linda, mas minha alma ainda tem a cor das cores desbotadas pelo sol. Sou plástico esquecida ao sol, ressecada e perdendo a cor, numa agonia invisível de quem sufoca. Agoniza Saturno. Não tenho mais o medo da solidão, muito menos a lembrança do doce sorriso que dei na infância. Não sou mais abrigo, sou cansaço. Sou colo desconfortável. Sou lágrima que não cai. Quero continuar nas promessas, embora eu saiba que não as cumprirei. Quero fazer promessas. Só tenho forças para fazer promessas. Prometo me lembrar das ruas de Santa Tereza. Prometo sentir o frio que senti lá. Prometo o gosto do vinho de jaboticaba na boca, a som dos passos nas ruas, a cor das janelas dos casarões. Prometo a mata entrando na cidade, o morro, o tronco, a vista do vale, a neblina. O frio. Minha alma esfriou. Prometo o museu que eu esqueci o nome, os bichos empalhados, os beija-flores presos para exposição. Prometo o Mosteiro de Ibirassu. A subida que sufoca e doe os músculos. A dor faz esquecer a cor da alma. Prometo o som do sino de meditação, a estátua do Buda, a sombra da árvore, a areia, a vista, a descida, a subida, a vista de cada pedacinho que eu vi e se perdeu na minha memória que não conseguiu guardar cada detalhe do mosteiro...

A Tonha está no meu colo, ronronando e “amassando o pão”, ela me olhou e levou a pata na lágrima que estava caindo, sei que é antropomorfização, mas ela fez isso: botou a pata na minha cara chorona e lambeu a pata.

A lista – Oswaldo Montenegro.

Eu não me reconheço na foto passada nem no espelho de agora, os defeitos sanados com o tempo não eram os únicos defeitos que havia em mim, e meu discurso, ah o meu discurso de certezas, meu orgulho, minha bandeira (s)! Quanto orgulho das minhas convicções achando que eram as melhores características minhas...São lixos contaminados. LIXOS. Lixos cultivados por tanto tempo que não sei como me desfazer deles. A força do medo que tenho me impediu de ver o que anseio...NÃO ME MATEI, ainda.
CHORANDO MUITO 01/01/2010. OUVINDO RAUL SEIXAS. 22hs

Fruto do mundo
Somos os homens,
Pequenos girassóis os que mostram a cara
E enorme as montanhas que não dizem nada.

Fruto do mundo somos os homens pequenos girassóis os que mostram a cara e enorme as motanhas que não dizem nada fruto dos mundo somos os homens pequenos girassóis os que mostram a cara e enorme as motanhas que não dizem nada incapazes los hombres que ablam de todo e sufrem cajados...

Não sei mais onde retirar defeitos meus, sinto que a qualquer momento cairei vazia, oca, apodrecida de ter me perdido de mim mesma no caminho... caminho que não quero andar não quero seguir caminho que não escolhi oca de sentimentos de emoções e certezas meu discurso é vazio é falsa certeza que aparento a alegria que não tenho.

Quero fazer promessas de ano novo, novo, novo, NOVO? Enfim, novo, quero fazer promessas de ano novo. Odeio fazer promessas, ainda mais de ano NOVO? Mas quero fazer promessas, e pior, quero cumpri-las, justo eu que não cumpro nada, que tenho um discurso chato, que acho que estou sempre certa (?) se eu acho isso por que me sinto sempre tão mal? Que vazio é esse? Quero fazer promessas de ano novo. Quero acreditar que o ano será novo, que eu serei outra, quero derreter-me e não sobrar nada, tudo velho, podre, oco, descartar-me...odeio coisas descartáveis, poluem o mundo. Eu sou DESCARTÁVEL. Por isso o mundo vai acabar...poluído por coisas descartáveis...quero fazer promessas de ano novo...prometo me MATAR, prometo não sorrir em nenhuma fotografia, prometo não me meter na briga dos outros, prometo usar copos descartáveis e jogá-los na rua, não separar o lixo orgânico do reciclável, prometo não amassar as embalagens de Coca-Cola pra reduzir o volume do lixo, prometo não me preocupar com cachorro de rua, gatos abandonados, prometo passear com meus cachorros e não catar o cocô com sacolinha plástica, e se não resistir, prometo não procurar uma lixeira onde descartar esse lixo, vou joga-la na rua, prometo que farei compras na mercearia da rua e usarei sacolinhas, trarei uma lata de leite-condensado dentro de duas sacolinhas e depois vou joga-las na rua, na calçada de alguém que acabou de varrer, se possível onde corre água de chuva. Nunca mais trarei coisas na mão pra economizar plástico. Prometo não aproveitar a água da máquina de lavar pra lavar o quintal, prometo comer carne sem culpa, dormir com a TV ligada, a luz ligada, esquecer o fogo ligado e não FAZER DISCURSO de uso consciente de energia. Prometo não contar nenhuma novidade sobre energia alternativa vinda de fontes renováveis, não procurar nenhum aquecedor de água feito de pet, telhados ecológicos, parede de terra que reduzem a temperatura do ambiente, prometo não conversar com catadores de papel e convidá-los a entrar na minha casa, tomar café com eles, prometo nunca mais oferecer a alguém que mora numa casa menor que minha cama ajuda pra construir uma casa melhor, prometo nunca mais tomar café em copo de extrato de tomate lavado em água suja, prometo nunca mais ouvir no rádio que alguém precisa de ajuda e tentar ajudar. E NÃO CONSEGUIR, nem a casa nem a ajuda, só a esperança pras pessoas que já estavam acostumadas com o que não tinham e a desilusão de não conseguir mais uma vez. Quero cumprir todas as promessas. Quero fazer outras. Quero deixar de ser EU. Abaixar as bandeiras, todas elas. TODAS. Desmanchar os discursos, perder as certezas, quero aparentar A COR DA MINHA ALMA. A minha alma tem a cor de cerrado queimado, com bichos inchados pelo calor do fogo, tocos retorcido inflamados pelo fogo da monocultura. Quero nunca mais usar a palavra monocultura, agronegócio. Minha alma tem a cor de cerrado queimado. Quero chorar todas as lágrimas que moram em meu peito. Quero não chorar mais, nunca mais. Quero nunca mais chorar sozinha. Minha alma tem a cor de cerrado queimado pelo agronegócio. Tem a cor do pequiseiro em chamas. Minha alma tem a cor da passarinha que tenta salvar o filhote da queimada. Tem o cheiro do mato queimando, a cor das chamas, do tronco em brasa viva. Do beija flor esticado no chão. Sou o muro. A pedra onde não cresce erva nem flor e arde e aquece a horta e não deixa crescer. Sou a água salobra, a falta da água. Sou a planta que sobra na mudança e morre um pouco por dia num vaso de plástico. Sou a terra rachada pelo sol escaldante, ou o milho, não o da Cora, sou o milho que não brotou, o milho que vai aumentar a fome no mundo. Sou a fome no mundo. Sou o olhar da mãe pedindo a morte do filho morto de fome. Sou o pano de limpar fogão esquecido e sujo na janela, sou a barata esmagada. Sou a teia de aranha em casa limpo. Sou a prostituta gorda velha e desdentada. Sinto dor de dente. Sinto dor. Sinto DOR. Quero fazer promessas de ano novo. PROMETO QUE VOU ME MATAR. Incapazes los ombres que ablam de todo e sufrem cajados...